Imane Khelif (boxe)
A boxeadora argelina esteve no centro da principal polĂȘmica dos Jogos. Ao derrotar a italiana Alessandra Carini na estreia da categoria atĂ© 66 quilos, após desistĂȘncia relâmpago da adversĂĄria, Khelif foi vĂtima de uma onda de desinformação nas redes. Formou-se um discurso de que a argelina, que fora desclassificada do Mundial de boxe de 2023 por, segundo a Associação Internacional de Boxe (IBA, na sigla em inglĂȘs), não atender "critĂ©rio de elegibilidade para participar na competição feminina", seria uma atleta transsexual e que sua participação entre mulheres seria injusta.
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Khelif avançou fase a fase atĂ© sair com a medalha de ouro na categoria. O peso emocional de tudo que viveu nos Jogos a levou às lĂĄgrimas. Segundo comunicado divulgado pela assessoria da atleta, ela contratou um escritório de advocacia para representĂĄ-la em um processo por assĂ©dio virtual apresentado à Promotoria de Paris.
Simone Biles (ginĂĄstica artĂstica)
A ginasta norte-americana chegou como a principal estrela dos Jogos como um todo. Quase uma estrela pop, dada a quantidade de artistas famosos e atĂ© astros de outros esportes que compareceram às suas competições. A trajetória da carreira de Biles tambĂ©m gerava uma curiosidade natural: após os quatro ouros nos Jogos do Rio, ela se retirou das disputas no meio da OlimpĂada de Tóquio para cuidar da saĂșde mental. O retorno da ginasta de 27 anos ao palco olĂmpico virou atĂ© tema de sĂ©rie da Netflix.
Com todas as câmeras apontadas para ela, Biles não decepcionou: saiu de Paris com trĂȘs ouros e uma prata.
Rebeca Andrade (ginĂĄstica artĂstica)
Quase como num roteiro cinematogrĂĄfico, se o mundo queria ver Simone Biles, a protagonista, o mundo viu Rebeca Andrade, a antagonista - mas certamente a 'mocinha' para os brasileiros e fãs da ginĂĄstica. A ginasta brasileira não apenas estava literalmente em todas as provas em que Biles competiu, mas disputou com ela ponto a ponto as mesmas medalhas. AlĂ©m disso, as duas tiveram inĂșmeros momentos de interações nos bastidores destes duelos.
Mas Rebeca não ficou à sombra da norte-americana. Mais do que mostrou, comprovou ter brilho próprio. O ouro no solo, desbancando Biles, foi um dos pontos altos da ginĂĄstica em Paris e, merecidamente, ela foi reverenciada ao receber a medalha no pódio. De quebra, Rebeca saltou para o topo da lista de atletas olĂmpicos do Brasil. Em Paris, foram quatro medalhas (um ouro, duas pratas e um bronze), que, somadas às duas conquistadas em Tóquio, a colocam como a maior medalhista do paĂs em OlimpĂadas.
Uma multicampeã olĂmpica e mundial, Rebeca cativou muita gente tambĂ©m com o jeito simples e descontraĂdo de encarar as competições.
Yusuf Dikeç (tiro esportivo)
Provavelmente, nenhum atleta teve um ganho maior de popularidade por conta da OlimpĂada do que Yusuf Dikeç, atirador turco de 51 anos. E no caso dele, não foi por nenhum recorde ou resultado histórico. Ao conquistar a medalha de prata na prova mista da pistola de ar 10 metros, junto com Sevval Ilayda Tarhan, Dikeç não fazia ideia de que sua imagem rodaria o mundo por um motivo tão singelo.
No tiro esportivo, Ă© comum que, alĂ©m da pistola, os atletas utilizem uma sĂ©rie de equipamentos para melhorar a performance, como óculos que potencializam a mira evitando qualquer tipo de 'sujeira' na visão. TambĂ©m usam fones de ouvido com isolamento acĂșstico de primeira categoria. Dikeç, no entanto, foi 'flagrado' competindo usando apenas seus óculos de grau e pequenos fones intra auriculares. Para completar, ao ser fotografado atirando com uma das mãos no bolso da calça, ele ganhou status nas redes sociais como um medalhista 'casual', que conseguiu o pódio com uma postura estilosa sem precisar de equipamentos sofisticados. No entanto, a pose com a mão no bolso para atirar Ă© extremamente comum na modalidade, por motivos de equilĂbrio corporal.
Em pouco tempo, a imagem e a história de Dikeç viralizaram na internet, movidas pelos fãs pouco familiarizados com o esporte. O turco se tornou um Ăcone mundial, personagem de vĂĄrios memes e inspirou comemorações nos próprios Jogos de Paris. O sueco Armand Duplantis, do salto com vara, por exemplo, comemorou o ouro com recorde mundial imitando a pose de Dikeç.
Teddy Riner (judô)
O judoca de 35 anos poderia atĂ© não ser mais aquele que passou quase dez anos e 154 lutas invicto no cenĂĄrio mundial. Mas certamente ainda era uma das principais, senão a principal figura do esporte olĂmpico francĂȘs. Tanto que foi, ao lado da velocista Marie-JosĂ© Perec, responsĂĄvel por acender a pira olĂmpica na cerimônia de abertura dos Jogos.
No tatame, Riner brilhou tambĂ©m. Depois de parar na semifinal e ficar com o bronze em Tóquio, ele voltou a se sagrar campeão olĂmpico na categoria peso-pesado (mais de 100 kg), chegando a trĂȘs ouros e dois bronzes em OlimpĂadas.
No entanto, a grande lembrança ligada a Teddy Riner nos Jogos de Paris se deu na disputa por equipes, em que vence o paĂs que ganhar quatro lutas primeiro. Na final contra o Japão, os franceses perdiam por 3 a 1 e estavam a um revĂ©s de ficar com a prata. O time da França conseguiu igualar e levar para o duelo-desempate, que Ă© definido por um sorteio exibido no telão. Ao ser sorteada a categoria de Teddy Riner, o Campo de Marte, palco do judô, foi à loucura antes mesmo da luta. No duelo decisivo, Riner justificou a confiança dos franceses, derrotou o japonĂȘs Tatsuro Saito por ippon e garantiu outro ouro para a França, num desfecho apoteótico.
Novak Djokovic (tĂȘnis)
Se alguns queriam reviver a glória olĂmpica, outros almejavam senti-la pela primeira vez. O sĂ©rvio Novak Djokovic, de 37 anos, maior vencedor de Grand Slams entre tenistas masculinos, campeão da Copa Davis e jogador com mais semanas na história como nĂșmero 1 do mundo, não escondia de ninguĂ©m que queria o ouro olĂmpico mais do que qualquer outra coisa.
Em Paris, na quadra de Roland Garros, onde um dia ele chorou ao comemorar o Grand Slam que mais demorou a adicionar à sua galeria de tĂtulos, Djoko chorou novamente após coroar uma semana perfeita com um tĂtulo em uma grande final contra o espanhol Carlos Alcaraz, 16 anos mais novo que ele.
Agora, sim, ele pode se autointitular 'campeão de tudo'.
Mijain López (wrestling)
Michael Phelps pode ser visto por muitos como o maior atleta olĂmpico de todos os tempos, mas um recorde em termos individuais não pertence a ele. O cubano Mijain López, de 41 anos, conquistou o ouro na luta greco-romana, na categoria atĂ© 130 kg e, com isso, chegou a cinco tĂtulos olĂmpicos consecutivos. Nenhum atleta de esportes individuais alcançou isso na história. López, que estreou em OlimpĂadas sendo quinto colocado em Atenas, em 2004, enfileirou ouros em Pequim, Londres, Rio, Tóquio e agora Paris.
Na França, ele derrotou desafiantes mais novos e saiu com o primeiro lugar antes de uma despedida marcante. López retirou as sapatilhas e deixou-as no meio da ĂĄrea de combate, simbolizando sua aposentadoria do esporte.
Cindy Ngamba (boxe)
A partir dos Jogos do Rio, em 2016, o COI introduziu o time de refugiados, para dar vez a atletas que, por variados motivos, se inserem em uma das questões geopolĂticas mais tensas dos Ășltimos tempos: a população que deixa a terra natal e passa a viver em outro paĂs. HĂĄ oito anos, a equipe contou com dez representantes. Em Paris, foram 37. Pela primeira vez, a bandeira do time de refugiados apareceu no pódio.
Cindy Ngamba, boxeadora nascida em Camarões mas que fugiu para o Reino Unido aos 11 anos, conquistou o bronze na categoria atĂ© 75 kg. A atleta de 25 anos deu um depoimento forte à ONU:
"Quero dizer aos refugiados em todo o mundo, incluindo os que não são atletas, que continuem trabalhando, continuem acreditando em si mesmos, vocĂȘs podem alcançar tudo o que quiserem", disse Ngamba.
Julien Alfred (atletismo)
Uma das provas mais nobres do atletismo teve tambĂ©m uma das melhores histórias. Os 100 metros rasos femininos foram vencidos por Julien Alfred, velocista de 23 anos que representa Santa LĂșcia, uma pequena ilha no Caribe. A primeira medalha da história do paĂs foi logo de ouro, que Alfred conquistou com o tempo de 10 segundos e 72 centĂ©simos.
Em Paris, Alfred ainda saiu com uma segunda medalha, nos 200 metros rasos. As imagens da população de Santa LĂșcia festejando os pódios da atleta tambĂ©m rodaram o mundo. Para se ter uma ideia, o paĂs tem uma ĂĄrea de aproximadamente 539 quilômetros quadrados, mais de dez vezes menor que o Distrito Federal.
Leon Marchand (natação)
O nadador francĂȘs Leon Marchand, de 22 anos, concluiu os Jogos de Paris como o novo potencial nome olĂmpico histórico. Na letra fria, a chinesa Zhang Yufei, com seis pódios (uma prata e cinco bronzes), foi a maior devoradora de medalhas nesta OlimpĂada. No entanto, Marchand, que vem logo depois, com cinco, foi quem mais causou um impacto.
O fenômeno caiu na piscina para seis provas e só não saiu com medalha no revezamento misto 4x100 medley. Nas outras cinco, foram quatro ouros e um bronze. E não apenas isso: nos 200 e nos 400 medley, o francĂȘs derrubou recordes olĂmpicos que pertenciam a Michael Phelps. O americano, que esteve em Paris, acompanhou e atĂ© torceu pelo seu possĂvel sucessor.
Ainda muito jovem, Marchand se coloca como candidato ao seleto grupo de atletas com mais de dez medalhas olĂmpicas, do qual fazem parte gigantes como os jĂĄ citados Phelps e Biles, hegemônicos em esportes com muita oferta de medalha. Em Los Angeles, pode se afirmar como um dos maiores da história.
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