Neste sábado, 3, o Diretório Municipal do Partido Liberal (PL) realizou um evento que tinha todos os ares de um lançamento de candidatura presidencial, mas que, ao final, se revelou como um indicativo preocupante da solidão política do deputado federal Capitão Alberto Neto em sua aspiração pela Prefeitura de Manaus. O encontro, realizado no Clube do Trabalhador (Sesi), na Zona Leste da capital, contou com a presença de aproximadamente cinco mil pessoas, mas foi notoriamente marcado pela ausência destacada de figuras chave do próprio partido, revelando um cenário político conflituoso e repleto de tensões internas.
Alberto Neto, que se apresenta como um defensor do bolsonarismo, lançou sua pré-candidatura ao cargo de prefeito e anunciou a empresária Maria do Carmo, do partido Novo, como sua vice. No entanto, a festa que deveria ser uma demonstração de força e unidade do PL foi significativamente ofuscada pela falta de apoio dos três deputados estaduais do partido no Amazonas: Delegado Péricles, Débora Menezes e Cabo Maciel. Este último, parte de um grupo alinhado com o governador Wilson Lima, do União Brasil, assim como seu correligionário Roberto Cidade, que também anunciou sua candidatura à prefeitura no mesmo dia.
A ausência dos deputados estaduais reflete uma fissura crescente dentro do PL, transparecendo um descontentamento que se torna difícil de ignorar. ?? possível interpretar esse afastamento como uma sinalização de que a cadeira de prefeito não será ocupada apenas por uma figura proeminente do partido, mas sim em um jogo de alianças complexas e contraditórias que envolvem as ambições pessoais e os interesses políticos de diversos atores.
Durante o evento, mesmo com a presença de vereadores que se alinham ao Capitão, como Marcel Alexandre, Capitão Carpê e Raiff Matos, a realidade é que a organização do palanque não era representativa do poder e do prestígio que Alberto Neto almejava. O apoio de figuras de outros estados, como o vereador paulistano Fernando Holiday, embora apreciável, evidencia um ponto: a força do candidato talvez não resida tanto em sua base local, mas em uma projeção que considera aliados distantes.
Embora Alberto Neto tenha tentado manter o foco nas promessas de desenvolvimento e mudanças, sua retórica catártica, repleta de ideias emaranhadas e vagarosas, não conseguiu convencer nem mesmo seus aliados mais próximos. Prometer a construção de hospitais e melhorias nas escolas municipais em alto estilo, com "linguagem nos computadores", sem uma apresentação concreta e viável de planos de ação, pareceu mais um eco das expectativas do que uma estratégia política sólida.
A presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, embora restrita a um vídeo gravado, traz à tona a polarização que se instalou no cenário político atual. Em sua mensagem, Bolsonaro declarou que a campanha está polarizada, evidenciando que o alicerce do bolsonarismo " embasado em ideais díspares de respeito à família, liberdade de expressão e prosperidade " não tem se consolidado de forma unificada nas bases do PL em Manaus.
Essa situação leva a reflexões sobre a real possibilidade de Alberto Neto promover uma campanha efetiva e competitiva. O panorama torna-se ainda mais sombrio quando observamos que a verdadeira força política não provém apenas de convocar shows e discursos inflamados, mas sim da construção de alianças consistentes e do estabelecimento de um diálogo proativo com a população e os partidos aliados. A ausência de apoio dos deputados estaduais do PL é um alarme vermelho que não pode ser ignorado.
Ademais, o evento bem elaborou um contraste entre a movimentação efervescente e o vazio estratégico encontrado nas articulações locais. Apesar de suas tentativas de se posicionar como um líder no movimento bolsonarista, a falta de respaldo interno demonstra que Alberto Neto está, de fato, navegando em um mar revolto, repleto de ondas de descontentamento e incertezas políticas. A esperada união na construção de estratégias comuns está distante da realidade, que evidencia divisões e rupturas.
Em um ambiente político cada vez mais competitiva e polarizado, a viabilidade da candidatura de Alberto Neto se torna uma incógnita. O bolsonarismo, enquanto ideologia de campanha, está sendo testado em níveis locais, onde a figura do candidato é apenas uma fração do que é necessário para garantir uma eleição. Fatores como a construção de um perfil político coeso, a criação de uma rede robusta de alianças e o estabelecimento de planos de governo que dialoguem com as necessidades reais da população são fundamentais para o sucesso.
?? pertinente questionar: será que Alberto Neto conseguirá unir seu partido, reverter o abandono recebido e se consolidar como uma figura de liderança com efetiva conexão com Manaus? A partir dos recentes acontecimentos, as respostas não são otimistas. Assim, o desafio agora é para além de sua retórica pautada em slogans; é hora de um reposicionamento estratégico, que deve ser acompanhado de uma escuta ativa e inclusão das vozes que compõem o seu partido.
Diante desse quadro, o futuro político de Alberto Neto permanece em aberto, e as próximas semanas serão cruciais para determinar se a sua candidatura à Prefeitura de Manaus se estabelecerá ou se se tornará um mero episódio na narrativa da insatisfação que permeia o PL no Amazonas. A esperança de garantir um apoio forte e coeso encontra-se, por enquanto, em um estado de turbulência e incerteza. Assim, o que se avizinha no horizonte político é um verdadeiro teste de resiliência e adaptação num cenário de complexidade e divisão.