Menos de 48 horas após um grave vídeo de agressão contra uma adolescente de 12 anos repercutir nas redes sociais, o pai e a madrasta da menina se entregaram à polícia na tarde de quinta-feira (6). O caso ganhou destaque, levantando questões sobre proteção à infância e violência doméstica.
A delegada Juliana Tuma, titular da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), deu detalhes sobre o caso e as medidas tomadas contra os responsáveis pela adolescente durante entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (7).
Segundo Tuma, com a repercussão do vídeo, o pai da menina ainda tentou persuadir a mãe biológica dela a não levá-la até a delegacia, caso fossem chamados para prestar esclarecimentos.
Sobre o dia das agressões, que ocorreram na segunda-feira (3), no bairro da Paz, na Zona Centro-Oeste de Manaus, a delegada contou que essas ações eram constantes e foram desencadeadas após um passeio da vítima com a madrasta. Em depoimento, a adolescente revelou que mantinha silêncio sobre as surras por medo das ameaças feitas pela madrasta.
"A menina disse que tinha muito medo, pois a madrasta ameaçava. Ela dizia que a enteada apanharia muito mais se contasse ao pai dela, por isso, ela sofria calada", disse a titular da Depca.
Com o depoimento da menina, também foi constatado que, na verdade, o pai sabia e era conivente com as agressões.
"A adolescente contou que as surras de ripa eram recorrentes, por isso tipificamos como tortura. Com a investigações, também identificamos que o pai foi omisso. Ele sabia das surras mas não agia", contou a delegada. Com isso, foram expedidos e cumpridos os mandados de prisão preventiva contra o casal.
Outras crianças também eram vítimas
Durante o interrogatório, a madrasta preferiu se manter em silêncio, mas em alguns momentos alegou que as agressões aconteceram apenas uma vez. Já o pai da adolescente afirmou que desconfiava das situações, porém não acreditava nos relatos da filha, sendo acusado de omissão diante do sofrimento da menina.
Ainda segundo a delegada Juliana Tuma, outros dois menores, filhos apenas da mulher, e que também residiam na casa relataram terem sido vítimas das agressões da madrasta, porém em menor intensidade, evidenciando um padrão de abuso direcionado especialmente à enteada.
"As outras crianças que foram ouvidas na DEPCA confirmaram que também sofriam castigos físicos, mas que não apanhavam da mesma forma que a adolescente do vídeo em questão. Aparentemente era algo pessoal, não se trata só de maus-tratos sob o pretexto de correção, mas sim de motivos com sentimento vil que a mulher nutria em relação àquela menina", disse a autoridade policial.
Após as oitivas, as crianças foram levadas para a guarda de outros familiares enquanto o casal, que estava junto há sete anos, enfrentará acusações de tortura e omissão por parte do pai. A adolescente agredida no vídeo, apesar de apresentar hematomas, não necessitou de atendimento médico.
Vídeo repercutiu nas redes sociais
O vídeo das agressões contra a adolescente, que rapidamente se espalhou pelas redes sociais, mostra a madrasta espancando a vítima com um pedaço de madeira e puxando seus cabelos, enquanto a menor chora e grita de dor. A crueldade das imagens gerou comoção e indignação entre a população, que pressionaram as autoridades pela prisão da mulher.
As investigações foram iniciadas logo após a polícia tomar conhecimento do vídeo, mesmo sem nenhum registro de Boletim de Ocorrência (BO) ter sido registrado. Após a identificação do casal, as agressões foram constatadas como frequentes, motivo pelo qual a tia paterna da vítima teria instalado câmeras de segurança que capturaram o momento do crime.
A adolescente, que foi resgatada bastante machucada e amedrontada, está agora sob os cuidados da mãe biológica.