Manaus (AM) " Dois vereadores dos municĂpios de Tabatinga e Itacoatiara, localizados no interior do Amazonas, correm o risco de perder os mandatos por quebra de decoro parlamentar devido a acusações de violĂȘncia domĂ©stica contra suas respectivas ex-mulheres. As denĂșncias foram feitas em menos de trĂȘs dias de diferença.
Os pedidos de cassação contra Paulo Bardales, presidente da Câmara de Vereadores de Tabatinga, e do tambĂ©m vereador Sóstenes Adiel Pereira Batista, mais conhecido como Totti Adiel, aconteceram simultaneamente nesta terça-feira (26).
A ação contra Bardales foi protocolada pela presidente do Grupo de Mulheres da Associação PĂ©rolas, Aldenora Santos Magalhães. Durante o pedido de cassação, Aldenora argumentou que as alegações de violĂȘncia contra o vereador constituem uma clara violação do decoro parlamentar e exigem medidas enĂ©rgicas para preservar a Ă©tica no exercĂcio dos mandatos parlamentares.
O pedido foi aceito por todos os nove vereadores presentes na sessão. Foi criada uma comissão, a qual teve como presidente o vereador Testa, relator Marlem e o vereador Denei como membro.
No Brasil, o afastamento de um vereador por quebra de decoro parlamentar pode variar conforme as leis municipais e estaduais, bem como o regimento interno da Câmara Municipal em questão.
Ao Portal AM1 o vice-presidente da Câmara, Bruno Nunes, afirmou que o regimento da Câmara Municipal de Tabatinga Ă© omisso. Com isso, a comissão vai seguir o Decreto-lei 201/67, que determina no Art. 5°, III " que "recebendo o processo, o presidente da comissão iniciarĂĄ os trabalhos, dentro de cinco dias, notificando o denunciado, com a remessa de cópia da denĂșncia e documentos que a instruĂrem, para que, no prazo de 10 dias, apresente defesa prĂ©via, por escrito, indique as provas que pretender produzir e arrole as testemunhas, atĂ© o mĂĄximo de dez".
Vereador Bardales durante sessão na Câmara antes do pedido de cassação
O vereador Paulo Bardales foi notificado nesta quarta-feira (27) e tem o prazo de dez dias para apresentar a defesa por escrito. A comissão tem 90 dias para concluir o processo.
O vice-presidente da câmara ressaltou que a quebra de decoro parlamentar não foi só baseada nos crimes de violĂȘncia domĂ©stica, mas tambĂ©m em abuso de poder.
"No dia do ocorrido o vereador Paulo foi atĂ© à residĂȘncia da ex-companheira acompanhado de alguns funcionĂĄrios da câmara com o veĂculo oficial da câmara, para praticar o delito de violĂȘncia domĂ©stica. Eles estavam em um veĂculo oficial da casa legislativa", explica Bruno Nunes.
AlĂ©m disso, tambĂ©m foi aberto um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra os funcionĂĄrios que estavam com Bardales por omissão de socorro à vĂtima. "Eles presenciaram o presidente agredir a vĂtima e não se envolveram ou pediram ajuda, mesmo a vĂtima gritando por socorro", pontua.
Em Itacoatiara, não serĂĄ diferente. A comissão criada para presidir o caso tem 90 dias para apresentar a decisão final, conforme o regimento da câmara. O pedido de cassação de Totti Adiel foi protocolado pelo advogado Leandro Negreiros.
A comissão, que vai presidir a relatoria do caso, Ă© composta pelos vereadores Marcos Rodrigues, que ficarĂĄ como presidente, Richardson Rodrigues, relator, e FĂĄbio Miquiles como membro.
Segundo o cientista polĂtico Carlos Santiago, denĂșncias feitas contra vereadores, como de Paulo Bardales e Totti Adiel, se comprovadas, constitui uma violação do decoro parlamentar e do cargo que ocupam.
"Provas como Boletins de OcorrĂȘncia, exames de corpo de delito e depoimentos são considerados suficientes para embasar a instalação de um processo de cassação do mandato parlamentar pela câmara de vereadores", disse o especialista.
Santiago ressalta que quem detĂ©m um cargo pĂșblico deve servir como exemplo. Portanto, Ă© responsabilidade das câmaras municipais manter o decoro do cargo da função pĂșblica e buscar penalizar aqueles que não se comportam adequadamente com o cargo que ocupam.
Adiel durante pronunciamento na tribuna da câmara
Vereadores se defendem
Nas redes sociais, Totti Adiel afirma que estĂĄ sofrendo linchamento virtual por conta de denĂșncias falsas sobre o fim de seu relacionamento. Ele afirma que o cargo de vereador Ă© pĂșblico e deve ser avaliado pela população, contudo a vida pessoal dele não Ă©.
O vereador afirma estar determinado a exercer seu direito constitucional à defesa, garantindo que farĂĄ uso de toda a energia e competĂȘncia que possui para esclarecer a situação.
"Estou sendo acusado e condenado por fatos que ainda nem foram apurados pelo JudiciĂĄrio, pois antes mesmo do registro do Boletim de OcorrĂȘncia fosse realizado na noite de sĂĄbado (23), eu jĂĄ estava sendo condenado por advogados, mĂdia e familiares de minha ex- companheira que me acusaram falsamente de ser reincidente em um crime que sequer cometi", se defende Totti Adiel.
JĂĄ Paulo Bardales disse ao Portal AM1 que a denĂșncia não passa de "perseguição polĂtica" contra ele, e que o pedido de cassação contra o seu mandato "estĂĄ todo errado".
"?? lamentĂĄvel, mas estão usando minha ex para fazer politicagem, sobre o pedido de cassação [estĂĄ] tudo errado. ?? mais polĂtica para me prejudicar, mas o povo de Tabatinga estĂĄ ciente e vamos dar a resposta nas urnas", frisou.
Bardales jĂĄ havia publicado nas redes sociais um vĂdeo se defendendo das acusações, inclusive afirma que ele que era agredido pela ex-mulher.
Relembre os casos
O primeiro caso a vir à tona foi o de Tabatinga. LĂĄ, o presidente da Câmara Municipal do MunicĂpio, Paulo Bardales foi denunciado pela ex-mulher no dia 20 deste mĂȘs por agressão e ameaça. Sayara Bemerguy, que Ă© filha do prefeito da cidade, Saul Bermeguy (MDB), relatou à polĂcia que o parlamentar foi à casa dela acompanhado de funcionĂĄrios da Câmara e agrediu fisicamente.
Segundo a vĂtima, não foi a primeira vez que sofreu violĂȘncia por parte de Paulo. Durante 19 anos de relacionamento, ela afirma que o agora ex-marido costumava ter crises de ciĂșme constantemente e praticar violĂȘncia psicológica e fĂsica.
TrĂȘs dias depois, o vereador Totti Adiel tambĂ©m foi acusado pela companheira de violĂȘncia domĂ©stica.
Saline Almeida Rodrigues, de 24 anos, relatou que o parlamentar puxou o cabelo e o braço dela após anunciar que queria se separar. Toda a agressão foi presenciada pela irmã da vĂtima.
A defesa da vĂtima afirma que as agressões aconteciam hĂĄ pelo menos um ano. "Ela contou que, toda vez que o vereador bebe, ele cria confusão e quer bater nela", informou o advogado e primo da vĂtima, Marcondes Rodrigues.
Ambas as vĂtimas conseguiram na justiça medidas protetivas contra os parlamentares.