"Não importa os sacrifĂcios, consequĂȘncias ou possibilidades futuras, a resistĂȘncia no LĂbano não deixarĂĄ de apoiar Gaza", repetiu a principal liderança do grupo libanĂȘs Hezbollah, Hassan Nasrallah, em discurso televisionado após o agravamento do conflito na região.
"Cada vez que a população de Gaza sofre um ataque, como em 2012 e 2014, a resistĂȘncia libanesa se mobiliza e tenta fazer uma linha de reforço. Esses conflitos para apoiar os palestinos sempre ocorreram, desde 1985", explicou o jornalista, cientista polĂtico e professor de relações internacionais Bruno Lima Rocha Beaklini.
As batalhas entre os militares israelenses e os grupos da resistĂȘncia libanesa após o 7 de outubro de 2023 forçou o deslocamento de cerca de 120 mil israelenses do norte do paĂs e preocupa Tel-Aviv com a possiblidade do conflito inviabilizar o Porto de Haifa, no Mar Mediterrâneo.
Bruno Beaklini lembrou que o porto israelense de Eilat jĂĄ estĂĄ sem operar por causa do bloqueio naval que as milĂcias do IĂȘmen " solidĂĄrias à Gaza " impõem no Mar Vermelho. AlĂ©m disso, avalia que Israel decidiu bombardear o LĂbano em larga escala por causa do impasse criado na Faixa de Gaza.
"Netanyahu tentou criar um impasse colocando a população do LĂbano inteira no alvo de bombardeios e, com isso, tentar salvar o Porto de Haifa e tentar recolocar a sua população no norte da Galileia ocupada", explicou o especialista, lembrando que o atual norte de Israel, conhecida como Galileia Histórica, não estava na divisão da Palestina originalmente proposta pelas Nações Unidas (ONU), em 1947.
Para Bruno, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tenta ampliar a guerra porque não tem uma saĂda para Gaza, não consegue libertar os refĂ©ns e espera ganhar tempo para a eleição dos Estados Unidos, o principal aliado de Israel.
"Aquilo que seria um apoio hipócrita do governo dos democratas [do presidente Joe Biden ou da candidata Kamala Harris], pode se tornar um apoio assumido com uma vitória de Donald Trump. Trump pode retomar a campanha dos Acordos de Abraão, tentando aliciar novamente os estados ĂĄrabes, como a ArĂĄbia Saudita. Ai sim Netanyahu tem carta branca para fazer o que bem entender", completou.
Os chamados Acordos de Abrão são compromissos firmados entre Israel e alguns estados ĂĄrabes e que são apontados por alguns especialistas como um dos motivos para o Hamas atacar Israel no 7 de outubro de 2023.
Apesar dos atuais bombardeios israelenses contra o LĂbano serem uma consequĂȘncia dos ataques à Gaza, o conflito entre a resistĂȘncia libanesa e o Estado de Israel não começou com o 7 de outubro, mas sim em 1978. Nesse ano, os militares de Tel-Aviv invadiram o LĂbano ao perseguir a resistĂȘncia palestina, que se refugiava no paĂs vizinho.
Em 1982, Israel invade novamente o LĂbano e ocupa parte de Beirute, a capital do paĂs, obrigando os militantes da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) a fugir da região. Israel então cria uma ĂĄrea tampão e permanece ocupando o sul do LĂbano atĂ© o ano 2000.
O grupo Hezbollah surge então como uma guerrilha " apoiada pelo Irã " que luta contra a ocupação militar de Israel no LĂbano. Em 25 de maio de 2000, a resistĂȘncia libanesa consegue expulsar Israel do paĂs ĂĄrabe.
Houve ainda outras trĂȘs campanhas militares de Israel contra o LĂbano, em 2006, 2009 e 2011. A maior foi em 2006, durou cerca de 30 dias e matou mais de 10 mil civis.
"As trĂȘs principais razões de existir dessa força polĂtica [o Hezbollah] Ă© proteger a população xiita mais pobre do LĂbano, proteger o território LibanĂȘs e libertar a Palestina", acrescentou o professor Bruno Lima Rocha Beaklini.
O LĂbano ainda disputa com Israel algumas ĂĄreas próximas às Colinas de Golã, território sĂrio invadido e ocupado por Israel desde 1967. As chamadas Fazendas Shebaa e as Colinas de Kfar Chouba são territórios tomados por Israel e que são reivindicados pelo LĂbano.
A maior comunidade de brasileiros vivendo no Oriente MĂ©dio estĂĄ no LĂbano. São 21 mil brasileiros que vivem no paĂs. A imigração libanesa no Brasil tambĂ©m Ă© forte. Estima-se que 3,2 milhões de libaneses ou descendentes de libaneses vivam no Brasil.
O principal grupo da chamada resistĂȘncia libanesa " o Hezbollah " tem tanto um braço militar quanto polĂtico, sendo o grupo com mais votos e assentos no parlamento libanĂȘs. O Hezbollah indica ministros para o governo do paĂs ĂĄrabe hĂĄ trĂȘs mandatos.
Apesar disso, para paĂses como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, o Hezbollah Ă© um grupo terrorista. PorĂ©m, as Nações Unidas não consideram o grupo como terrorista e o Brasil só considera como terroristas as organizações classificadas dessa forma pela ONU.
O cientista polĂtico Bruno Beaklini sustenta que não hĂĄ provas de que o grupo libanĂȘs promova ataques contra civis desarmados. Ele argumenta que ataques contra instalações miliares e diplomĂĄticas dos EUA na dĂ©cada de 1980 " apontados como atos terroristas - foram atos de guerra e que a acusação de que o grupo participou do atentando contra a Sociedade Judaica na Argentina, em 1994, não tem provas contundentes.
"Não tem nada aprovado [em relação ao atentado na Argentina]. Só existe uma peça da Procuradoria Argentina e o procurador que fez a apuração se suicidou em 2015, o Alberto Nisman. Ele apareceu morto no seu apartamento, supostamente via suicĂdio, depois que descobriram fundos de contas secretas dele e de sua mãe nos EUA sem origem e com um valor muito acima de seus ganhos", comentou.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br