"A democracia liberal demonstrou-se insuficiente e frustrou as expectativas de milhões. Ela se tornou apenas um ritual que repetimos a cada 4 ou 5 anos. Um modelo que trabalha para o grande capital e abandona os trabalhadores à própria sorte não Ă© democrĂĄtico. Um sistema que privilegia os homens brancos e falha com as mulheres negras Ă© imoral. Fartura para poucos e fome para muitos em pleno sĂ©culo XXI Ă© a antessala para o totalitarismo. Nossa luta Ă© fazer com que a democracia volte a ser percebida como o caminho mais eficaz para a conquista e efetivação de direitos", disse o presidente. Para Lula, a democracia vive seu momento mais crĂtico desde a II Guerra Mundial.
Coanfitrião do encontro, Pedro SĂĄnchez abordou o problema da desestabilização causada por redes digitais e falou sobre um plano para fomentar a democracia. "?? necessĂĄrio promover a transparĂȘncia e a responsabilidade dos meios de comunicação e das plataformas digitais, e, especialmente, de todos que desenvolvem a inteligĂȘncia artificial. Na Espanha, acabamos de aprovar um plano de ação pela democracia, em que abordamos estas e outras questões, colocamos em marcha medidas concretas para melhorar a qualidade da informação, fortalecendo a transparĂȘncia. Os cidadãos tĂȘm de saber quem são os proprietĂĄrios dos meios de comunicação que estão por trĂĄs das informações que se publicam e que consomem", disse.
Apesar de criticar o capitalismo, Lula ponderou que não defende "acabar com o livre mercado, mas sim recuperar o papel do Estado como planejador do desenvolvimento sustentĂĄvel e como garantidor do bem-estar e da equidade". Sobre liberdade de expressão, o presidente brasileiro diz que Ă© algo central numa democracia absoluta, mas não pode ser absoluto, e defendeu regulação das redes sociais, para conter a propagação de discursos que conduzem à opressão. "As tecnologias digitais ajudam a promover e difundir o conhecimento, mas tambĂ©m agravam os riscos à convivĂȘncia civilizada entre as pessoas. As redes digitais se tornaram um terreno fĂ©rtil para os discursos de ódio misóginos, racistas, xenofóbicos que fazem vĂtimas todos os dias. Nossas sociedades estarão sob constante ameaça, enquanto não formos firmes na regulação das plataformas e do uso da inteligĂȘncia artificial", disse.
"Eu rezo que não tenhamos que passar por outra Guerra Mundial para podermos ser capazes de fazer a coisa certa. Estamos a bordo desse bloco, porque o sistema democrĂĄtico, que, mesmo com suas imperfeições, por causa da desigualdade, da dependĂȘncia excessiva dos mercado, Ă© o melhor modelo", destacou a primeira-ministra de Barbados, Mia Motley.
Tanto Lula quanto SĂĄnchez apontaram que o encontro desta terça marca o inĂcio de uma sĂ©rie de outras atividades entre esses paĂses para defender a democracia e combater o extremismo.
"Os movimentos extremistas promovem o discurso do ódio, a polarização, a divisão, a intolerância, a radicalização e a violĂȘncia, enfraquecendo o diĂĄlogo cĂvico e ameaçando a coesão social. Os extremistas procurarm sempre minar a confiança dos cidadãos nas instituições, que garantem as liberdades e o Estado de Direito", afirmou o presidente de Cabo Verde, JosĂ© Maria das Neves.
JĂĄ o presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que os lĂderes progressistas que defendem a democracia não devem vacilar na condenação do autoritarismo, independentemente da ideologia. Citou os casos da Venezuela, Israel, NicarĂĄgua e RĂșssia.
"Diante dessas situações, precisamos adotar uma Ășnica posição como paĂses progressistas. Nós, como movimentos progressistas, precisamos ser capazes de defender princĂpios. E nisso, acho que as vezes fracassamos, pois não usamos a mesma medida para julgar aqueles que estão do nosso lado".
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br