PolĂ­tica

Violência política contra mulheres só teve 1 condenação desde 2021

Por Redação - [email protected]

02/09/2024 às 11:33:00 - Atualizado hĂĄ
 - Foto: agenciabrasil.ebc.com.br

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Pesquisa aponta que das 175 representações de violĂȘncia polĂ­tica de gĂȘnero e raça feitas no Brasil em dois anos e meio, apenas 12 (ou 7%) transformaram-se em ações penais eleitorais. "Dessas 12 ações, oito ainda estavam em fase de julgamento. AtĂ© agora, só houve duas sentenças, desde que a lei sobre violĂȘncia polĂ­tica contra mulheres foi criada, em agosto de 2021, atĂ© janeiro deste ano", afirma a diretora do Instituto Alziras, Michelle Ferreti, que coordenou a pesquisa. As duas sentenças, uma de condenação e outra de absolvição, são ainda passĂ­veis de recurso.

Os dados estão no Monitor da ViolĂȘncia PolĂ­tica de GĂȘnero e Raça, do Instituto Alziras."Nenhum processo ainda tinha transitado em julgado (não tinha percorrido todas as instâncias de julgamento). Então, a gente vĂȘ que hĂĄ uma morosidade do próprio sistema de justiça em poder apurar, de fato, os casos e fazer a devida responsabilização dos atores", diz a pesquisadora.

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Ela contextualiza que os casos monitorados estavam sendo acompanhados pelo Grupo de Trabalho de Prevenção e Enfrentamento à ViolĂȘncia PolĂ­tica de GĂȘnero do MinistĂ©rio PĂșblico Federal. O estudo realizado pela organização social avalia que ainda são necessĂĄrias medidas urgentes para garantir eleições mais seguras para as mulheres, mesmo com a Lei de ViolĂȘncia PolĂ­tica de GĂȘnero (Lei 14.192, de 2021).

Homens brancos agressores

Entre os casos analisados, todas as vĂ­timas das ações penais ajuizadas eram mulheres eleitas, enquanto 92% dos acusados eram homens, dos quais 62% eram brancos. AlĂ©m disso, metade dos episódios de violĂȘncia ocorreu em ambiente parlamentar. "Isso chamou a nossa atenção: os casos que avançaram no sistema de justiça foram exclusivamente os casos de mulheres que jĂĄ tinham mandato. Os processos das candidatas acabam tendo mais lentidão", alertou a diretora do Instituto Alziras. Michelle Ferreti entende que os dados sugerem que a lei tem sido menos eficaz na proteção dessas mulheres sem mandato e, por isso, menos protegidas.

Michelle Ferreti argumenta que o problema relaciona-se com a dificuldade do acesso à justiça e que os casos que evoluem são de mulheres com mandato e em sua maioria (53%) de brancas. "O que tambĂ©m nos sugere que as mulheres negras, alĂ©m de serem o maior grupo populacional do paĂ­s, são as que sofrem as mais graves ameaças e são vĂ­timas dos mais graves casos de violĂȘncia polĂ­tica de gĂȘnero e raça".

Subnotificação

Outro alerta trazido pela pesquisadora Ă© que haveria uma parcela importante de subnotificação dos casos de violĂȘncia polĂ­tica de gĂȘnero e raça no Brasil. "As pessoas não sabem onde e como denunciar, seja porque elas tambĂ©m tĂȘm medo de fazer denĂșncia ou porque tĂȘm medo de retaliação", pondera.

Mais um problema Ă© que, dentre as notificações ao MinistĂ©rio PĂșblico, haveria ainda um problema sobre a compreensão da lei pelos próprios atores e do sistema de justiça. "Muitos casos acabam saindo da esfera eleitoral e indo para a esfera civil porque são tratados como injĂșria ou difamação, e os crimes de violĂȘncia polĂ­tica de gĂȘnero acabam sendo classificados de outra forma", exemplifica.

Pela internet

O estudo identifica que no Brasil hĂĄ uma cultura polĂ­tica de muita violĂȘncia, sexista e racista, contra mulheres nos espaços de poder e tomada de decisão. "A gente tambĂ©m viu que em 30% dos casos essas violĂȘncias se deram de forma virtual", diz Michelle Ferreti. Para ela, a violĂȘncia polĂ­tica Ă© crime contra a democracia, jĂĄ que haveria tentativa de silenciamento e interdição no debate. "A gente tem feito um esforço de reduzir essa subnotificação e, por outro lado, tentar avançar no sentido de fazer a formação dos atores para que haja uma apuração e uma responsabilização mais eficazes de possĂ­veis acusados desse crime".

Para denunciar casos de violĂȘncia polĂ­tica, o MinistĂ©rio PĂșblico Federal e o próprio Instituto Alziras (telefone 61.3771-1071) disponibilizam canais de denĂșncias.

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