Maria da Penha foi homenageada nesta quarta-feira (21) pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), instituição onde cursou mestrado.
"Graças a Deus, as mulheres do meu paĂs tomaram para si a legislação e a fortaleceram. Porque a lei por escrito Ă© uma coisa e a lei efetuada Ă© outra", disse Maria da Penha.
"As mulheres, mesmo em cargos importantes, sofriam suas violĂȘncias e não existia nada para protegĂȘ-las. E elas tinham que viver a farsa da felicidade. A Lei Maria da Penha despertou nessas mulheres que jĂĄ tinham um posicionamento na sociedade [esforço] para que essa lei saĂsse do papel", emendou.
Durante o evento, Maria da Penha anunciou que estava entregando uma cópia do livro Sobrevivi... posso contar, de 1994, à Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e AtuĂĄria da USP, na qual seu agressor, na Ă©poca, seu marido, o colombiano Antonio Heredia Viveros, estudou. "Esse livro eu considero a carta de alforria das mulheres brasileiras", declarou, acrescentando que "Ă© lĂĄ que precisam saber a verdadeira história de um aluno".
A obra, que recupera toda a sua história, serviu, juntamente com o processo judicial, para fazer crescer a visibilidade entre a comunidade internacional. Nela, narra como seu então companheiro tentou matĂĄ-la com arma de fogo e, depois, com descargas elĂ©tricas.
A cofundadora e vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Regina CĂ©lia, lembrou que o processo de aprovação da lei expôs o atraso do Brasil em relação à proteção das mulheres. "Ela bateu às portas da Justiça no Brasil, mas o vizinho, foi o vizinho que acolheu a denĂșncia. Foi um povo de um outro lado e que disse o seguinte: vocĂȘs são muito tolerantes", afirmou, ressaltando que o nome de Maria da Penha "percorre o mundo" atĂ© hoje.
Segundo Maria da Penha, sua notoriedade tem trazido tanto reconhecimento e carinho como tambĂ©m gerado revolta e ameaças fomentadas, diversas vezes, por fake news. Ela contou que, a partir de 2021, começou a temer pela própria vida e tem sido surpreendida com episódios, como quando um homem a abordou em um estacionamento e disse que era o ex-agressor. "Nesse momento, fiquei em cĂĄrcere privado por escolha", adicionou, ressaltando ter conseguido uma medida protetiva com a ajuda da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.
A advogada Leila Linhares tambĂ©m recordou como o argumento de legĂtima defesa da honra, usado para inocentar homens que praticavam crimes contra mulheres, fermentou discussões entre o movimento feminista, sobretudo na dĂ©cada de 1970.
Um dos exemplos mais conhecidos foi o assassinato da socialite ??ngela Diniz, pelo então namorado Doca Street. O caso foi a jĂșri popular. "A gente percebe o longo caminho de dĂ©cadas e dĂ©cadas de luta contra a violĂȘncia", disse. "E a violĂȘncia contra as mulheres não era considerada uma violação de direitos humanos", completou a advogada.