AtĂ© o momento votaram o relator, FlĂĄvio Dino, que foi acompanhado por AndrĂ© Mendonça, Edson Fachin, Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli. Os demais ministros tĂȘm atĂ© as 23h59 desta sexta (16) para votar na sessão virtual extraordinĂĄria convocada somente sobre o tema.
TambĂ©m foram suspensas as emendas individuais de transferĂȘncia especial, as chamadas "emendas Pix", que permitem a transferĂȘncia direta a estados e municĂpios, por indicação individual de parlamentar, mas sem que seja necessĂĄrio vincular a verba a projeto, programa ou convĂȘnio especĂficos.
Pelas decisões de Dino, a suspensão dos repasses deve vigorar atĂ© que o Congresso implemente regras que garantam a transparĂȘncia e a rastreabilidade das emendas parlamentares. O ministro destacou que o plenĂĄrio do Supremo jĂĄ definiu restrições às emendas no julgamento de 2023, em que proibiu o chamado "orçamento secreto".
Dino atendeu a pedidos que haviam sido feitos pela Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR), pelo Psol e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Em comum, todos alegaram que a dinâmica atual da execução de emendas parlamentares não atende a requisitos constitucionais mĂnimos de transparĂȘncia, rastreabilidade e eficiĂȘncia.
No voto em que mantĂ©m as liminares, Dino disse que deve levar adiante esforços por uma solução consensual para o tem. Ele escreveu que "a busca por conciliação deve prosseguir".
Mais cedo, o presidente do Supremo, LuĂs Roberto Barroso, negou um pedido feito pelo Congresso para derrubar por conta própria as liminares de Dino, alegando que a interferĂȘncia da presidĂȘncia da Corte só se justificaria em circunstância "excepcionalĂssima", o que não seria o caso.
Na decisão, Barroso destacou que o assunto estĂĄ em votação no plenĂĄrio virtual, outro motivo pelo qual ele não poderia interferir. A sessão foi antecipada pelo presidente do Supremo para esta sexta após pedido de Dino. Antes, o julgamento havia sido marcado para 30 de agosto.
ContrĂĄrias à suspensão na execução das emendas parlamentares ao Orçamento, as mesas diretoras do Senado e da Câmara alegaram ao Supremo que a medida Ă© uma "interferĂȘncia drĂĄstica e indevida nas decisões polĂticas dos poderes Executivo e Legislativo", violando o princĂpio constitucional da separação de Poderes.
Outro argumento do Legislativo federal Ă© o de que a determinação de Dino "suspende a execução de polĂticas, serviços e obras pĂșblicas essenciais para a vida cotidiana de milhões de brasileiros".
Com a confirmação das liminares, o Supremo referendou tambĂ©m outras medidas determinadas por Dino. O ministro ordenou, por exemplo, que a Controladoria-Geral da União (CGU) faça a auditoria da aplicação, economicidade e efetividade sobre as transferĂȘncias especiais ("emendas PIX"), em execução em 2024.
Outra ordem Ă© para que a CGU realize, no prazo de 90 dias, a auditoria de todos os repasses de emendas Pix em benefĂcio de organizações não-governamentais e demais entidades do terceiro setor, realizados nos anos de 2020 a 2024.
Dino determinou ainda que emendas destinadas a ĂĄrea de SaĂșde somente sejam executadas após prĂ©vio parecer das instâncias competentes do SUS no sentido de que hĂĄ estrito cumprimento de regras tĂ©cnicas.
O ministro liberou as transferĂȘncias somente no caso de obras em andamento ou de situação de calamidade pĂșblica. Dino determinou que a suspensão vigore atĂ© que sejam implementadas medidas que garantam as exigĂȘncias constitucionais de transparĂȘncia, rastreabilidade e eficiĂȘncia na liberação das verbas do Orçamento da União.
O valor total da execução de emendas parlamentares vĂȘm aumentando ano a ano. Segundo o Portal da TransparĂȘncia, em 2023 foram efetivamente pagos pelo governo federal R$ 21,91 bilhões em emendas, valor que jĂĄ foi ultrapassado em 2024, com o repasse de R$ 23 bilhões atĂ© o momento.
No Orçamento da União de 2024, estão previstos um total de R$ 52 bilhões em emendas parlamentares. Somente em relação às emendas de comissão, o valor previsto dobrou de R$ 7,5 bilhões para R$ 15,2 bilhões, por exemplo.
Em seu recurso ao Supremo, o próprio Congresso reconhece que a liberação de emendas tem funcionado como moeda de troca entre o Legislativo e o Executivo, tendo se mostrado "mecanismo de incentivo à cooperação e à solução de impasses na aprovação da agenda do governo".
*MatĂ©ria atualizada para acrĂ©scimo de informações.