Nos primeiros dias após a eleição presidencial do paĂs sul-americano, TĂŒrk jĂĄ havia manifestado preocupação com as prisões em massa. Segundo a organização não governamental (ONG) venezuelana Foro Penal, ocorreram 1,3 mil prisões no contexto dos protestos pós-eleitorais. Segundo as autoridades venezuelanas, o nĂșmero Ă© ainda maior: 2,2 mil prisões no perĂodo.
Por outro lado, o governo afirma que luta contra grupos criminosos pagos para promover o caos e abrir caminho para um golpe de Estado. O MinistĂ©rio PĂșblico venezuelano apresentou, nessa segunda-feira (12), dois informes detalhando as ações das forças policiais, destacando os casos de 25 assassinatos de policiais ou lideranças chavistas desde o dia 28 de julho, alĂ©m de 192 feridos por esses supostos grupos criminosos.
"Mais da metade, 97 feridos, pertencem às forças de segurança do Estado: 58 à PolĂcia Nacional Bolivariana, 32 à Guarda Nacional Bolivariana, seis à PolĂcia Estadual e um à PolĂcia CientĂfica", afirmou o fiscal-geral da Venezuela, Tarek William Saab.
Desde que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou a vitória do presidente NicolĂĄs Maduro na eleição do dia 28 de julho sem apresentar os dados detalhados da votação por urna, protestos foram registrados em vĂĄrias partes do paĂs e denĂșncias de fraude tĂȘm questionado a reeleição de Maduro dentro e fora da Venezuela.
Organizações sociais venezuelanas tambĂ©m se manifestaram nos Ășltimos dias sobre as prisões desde o dia 28 de julho. A Frente DemocrĂĄtica Popular - que reĂșne nove organizações, entre elas o Partido Comunista da Venezuela (PCV) - divulgou comunicado ontem (12), condenando a repressão policial e militar dos Ășltimos dias.
"Detenções arbitrĂĄrias e ativistas sociais e dirigentes polĂticos incomunicĂĄveis se tornaram notĂcia diĂĄria nas duas Ășltimas semanas", diz o informe, que tambĂ©m pede que o governo "se abstenha de seguir reprimindo o povo, seja atravĂ©s de armas ou de acusações infundadas".
Para o Coletivo de Direitos Humanos Surgentes, a maioria dos protestos foi pacĂfica. "Perante esses acontecimentos, a resposta do governo nacional tem sido, em termos gerais, criminalizar o protesto, sem diferenciar entre protestos majoritĂĄrios e pacĂficos e protestos minoritĂĄrios e violentos", afirma.
O ComitĂȘ de Familiares e Amigos pela Liberdade dos Trabalhadores Presos se manifestou, tambĂ©m nessa segunda-feira (13), afirmando que hĂĄ detidos que não podem se comunicar com seus familiares por vĂĄrios dias, alĂ©m de relatos de prisões realizadas em domicĂlios sem ordem judicial.
"Graças às informações publicadas nas redes sociais e aos depoimentos de familiares das vĂtimas, pudemos saber que durante e após as manifestações pós-eleitorais, os detidos não foram autorizados a ter defesa privada, sendo imposta em todos os casos uma defesa pĂșblica. AlĂ©m disso, foram violados os lapsos processuais, o que representa clara violação do devido processo legal, da presunção de inocĂȘncia e do direito de ser julgado livremente", afirma a organização.
O comitĂȘ condenou a repressão estatal, que "ainda não acabou", e criticou a versão do governo de que os atos contra o resultado eleitoral são terrorismo. "Na maior parte, [os protestos] tiveram natureza espontânea e pacĂfica. Acusam os jovens que deles participam de serem viciados em drogas, bandidos e terroristas".
As trĂȘs organizações citadas tambĂ©m condenaram os assassinatos e a violĂȘncia contra lideranças do PSUV (partido do governo), alĂ©m dos ataques às sedes do partido governista, a rĂĄdios comunitĂĄrias e outros prĂ©dios pĂșblicos por parte de manifestantes.
"HĂĄ relatos de casas chavistas que foram marcadas por opositores. Isso Ă© inaceitĂĄvel e repudiamos totalmente, assim como repudiamos qualquer expressão de ódio contra o setor do povo trabalhador que se diz chavista", destacou o ComitĂȘ pela Liberdade dos Trabalhadores Presos.
Na Ășltima sexta-feira (9), o defensor de direitos humanos Koddy Campos filmou o que seria sua prisão por policiais e transmitiu a cena ao vivo em uma rede social. Campos pede a ordem de captura contra ele. Ao final, ele não foi detido. O caso viralizou nas redes venezuelanas e foi compartilhado pela liderança da oposição MarĂa Corina Machado.
Ontem (13), o dirigente chavista Diosdado Cabello acusou Campos de produzir um "falso positivo" e afirmou que não havia operação policial naquele local no momento. Segundo Cabello, Koddy Campos encenou uma suposta tentativa de prendĂȘ-lo. "Puseram um capuz em alguĂ©m como se fosse membro de organismo de segurança", disse.
O governo de NicolĂĄs Maduro sustenta que as prisões são justificadas e que, na maioria dos casos, são grupos pagos para atacar lideranças ligadas ao governo ou prĂ©dios pĂșblicos, escolas, e sedes do PSUV, com o objetivo de promover um golpe de Estado.
O chefe do MinistĂ©rio PĂșblico venezuelano, Tarek William Saab, fez um balanço nessa segunda-feira (12) e disse que, nos Ășltimos dias, foram atacadas 28 escolas, alĂ©m de 12 universidades, 10 sedes do Poder Eleitoral, 10 sedes do PSUV, alĂ©m de prefeituras, 38 paradas de ônibus, 10 comandos de polĂcias, entre outros bens pĂșblicos e privados, o que incluiria 27 monumentos e estĂĄtuas pĂșblicas, entre outros locais.
"Nesses dois relatórios com anexos - que estou convencido que [apresentĂĄ-los] Ă© nosso dever institucional, não só mostrar perante este conselho, mas perante o mundo, perante as organizações internacionais - obviamente tĂȘm os seus meios de prova com a sua expertise em vĂdeos, fotos e depoimentos que nos fala claramente sobre esse plano [insurrecional]", destacou.
O fiscal-geral da Venezuela destacou o caso do assassinato de Mayauri Coromoto Silva Vielma, de 49 anos, liderança popular chavista que trabalhava no municĂpio de Mariño, no estado Aragua. Ele voltava de uma marcha de apoio ao governo no dia 3 de agosto com sua filha, neta e vizinhos, quando foi alvejado por trĂȘs tiros.
De acordo com Tarek, cinco pessoas foram presas acusadas de participar do homicĂdio. "Um crime de ódio baseado no ataque e na tentativa de exterminar pessoas devido à sua orientação polĂtica", afirmou.