A reunião ocorre periodicamente hĂĄ quatro anos, e Ă© organizada pelo coletivo Julho das Pretas que Escrevem no DF. O nome do grupo faz referĂȘncia direta ao MĂȘs da Mulher Preta Latino-Americana. O propósito do coletivo Ă© estimular a escrita das mulheres e a publicação dos seus livros.
As mulheres negras são o maior grupo populacional do Brasil: 60,6 milhões de pessoas, sendo 11,30 milhões de mulheres pretas e 49,3 milhões de mulheres pardas " 28,3% da população, de acordo com o Censo de 2022 (IBGE).
Apesar disso, e da contribuição da mulher negra para vĂĄrios elementos da cultura brasileira, a participação e reconhecimento na literatura Ă© diminuta, lembra Waleska. Apenas trĂȘs autoras tendem a ser mais lembradas: a pioneira Maria Firmina dos Reis, com o romance ??rsula (1859); Carolina Maria de Jesus, autora de Quarto de Despejo: diĂĄrio de uma favelada (1960); e Maria da Conceição Evaristo de Brito, que começou a publicar somente em 2003, com o romance PonciĂĄ VicĂȘncio.
"Conceição Evaristo publicou um livro com mais de 20 anos na gaveta. Então, eu sempre digo que esse encontro de pretas que escrevem no DF Ă© para a gente não passar tanto tempo sem publicar e sem falar", enfatiza Waleska Barbosa.
Segundo a autora, o vazio da escrita feminina e negra na literatura brasileira foi ocupado por homens brancos, o que em alguns casos acarretou na construção de personagens caricatos: "a empregada, a gostosa, a pessoa hiper sexualizada, personagens subalternas e ridicularizadas." Esses tipos se alimentam de preconceitos e alimentam preconceitos. A caricatura dos livros escritos por homens brancos "vai estar nos filmes e na TV".
Para espantar preconceitos literĂĄrios e promover mais autoras negras, o coletivo Julho das Pretas que Escrevem no DF faz homenagens a autoras locais de diferentes gerações. Este ano foram celebradas as escritoras Adelaide Paula, Ailin Talibah, Conceição Freitas, Elisa Matos, Norma Hamilton e as irmãs Giovana Teodoro e Lourdes Teodoro.