"Com tristeza, a ImpĂ©rio Serrano recebeu a notĂcia do falecimento da carnavalesca Rosa Magalhães, aos 77 anos, nesta noite", informou a escola.
O velório serĂĄ aberto ao pĂșblico no PalĂĄcio da Cidade, sede da prefeitura do Rio, em Botafogo, 12h às 16h. O sepultamento serĂĄ restrito a familiares e amigos, no cemitĂ©rio São João Batista, tambĂ©m em Botafogo, às 16h30.
Rosa tinha mais de 50 anos dedicado à arte. A Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), ao lamentar a morte, afirmou que Rosa Magalhães "fez história" no carnaval.
O tĂtulo de 1982 com o ImpĂ©rio Serrano fez o enredo "Bum Bum Paticumbum Prugurundum" figurar entre um dos mais famosos do carnaval carioca.
Na Imperatriz Leopoldinense, a amante do carnaval conseguiu fazer a escola atingir a supremacia por anos seguidos. Conquistou o bicampeonato de 1994 e 1995 e o tricampeonato de 1999, 2000 e 2001.
"Falar de Rosa Magalhães Ă© falar da história da Imperatriz, tendo em vista que, de sete tĂtulos conquistados pela professora, cinco foram em nossa agremiação", publicou no X (antigo Twitter), a Imperatriz Leopoldinense.
"Neste momento, faltam palavras para definir a grandeza de Rosa e de toda a sua trajetória não só no carnaval, mas em toda a sua carreira, ao longo dos mais de 50 anos de trabalhos dedicados à arte. Rosa promoveu desfiles inesquecĂveis aos olhos do pĂșblico e de toda a crĂtica, e sempre estarĂĄ marcada por sua elegância, pela entrega magistral em seus trabalhos, e, principalmente, por sua brasilidade nas histórias que contou ao longo de todo esse tempo", completou a Imperatriz Leopoldinense.
O Ășltimo campeonato da carnavalesca foi em 2013, comandando o carnaval da Unidos de Vila Isabel. "Viva Rosa Magalhães", postou nas redes sociais a Vila Isabel após a notĂcia da morte.
"Se o carnaval carioca alcançou a primazia como grande espetĂĄculo visual muito se deve a Rosa. Nossa escola tem por ela uma gratidão imensurĂĄvel por ser um gĂȘnio artĂstico à frente do nosso Ășltimo campeonato em 2013", publicou a escola da zona norte do Rio de Janeiro, acrescentando que ela "projetou o seu talento e profissionalismo para alĂ©m da Avenida".
Rosa Ă© a maior carnavalesca da Era Sambódromo, que começou com a inauguração da Passarela do Samba, em 1984. A Ășltima participação dela foi em 2023, na escola ParaĂso do Tuiuti.
Uma das curiosidades Ă© que ela gostava de fazer e participar dos desfiles para, em algumas vezes, se misturar com os componentes, sem necessariamente se fazer perceber. Era uma forma de sentir a evolução da escola e a reação do pĂșblico.
AlĂ©m de levar a magia de fantasias e adereços para a MarquĂȘs de SapucaĂ, Rosa Magalhães ditou o espetĂĄculo de cores e movimentos na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007 e na festa de encerramento das OlimpĂadas de 2016, ambas no Rio de Janeiro. A celebração de 2007 rendeu para a carnavalesca o prĂȘmio Emmy de melhor figurino.
Carnavalescos viam em Rosa mais que uma competidora. Ela era tambĂ©m uma "professora", disse Alexandre Louzada, dono de seis tĂtulos na elite do carnaval carioca e dois no carnaval paulista.
"Eu realmente tinha intenção de fazer um enredo sobre ela. Quando nos encontramos, ela sempre brincava que não queria enquanto ela estivesse competindo. Eu dizia que ela estava com medo de perder para ela mesmo", contou em mensagem enviada à AgĂȘncia Brasil.
Dono de trĂȘs tĂtulos no Grupo Especial do carnaval do Rio, incluindo um com a Imperatriz Leopoldinense em 2023, Leandro Vieira disse que, no futuro, não haverĂĄ "desfile que não tenha uma espĂ©cie de assinatura da professora".
"A Rosa vive e viverĂĄ em cada carnavalesco que insistir em fazer carnaval. Seu nome vai viver em cada história bem contada, em cada fantasia vestida, em cada alegoria que flerte com a inteligĂȘncia e a beleza. Seu nome Ă© uma espĂ©cie de verbete daquilo que determina o que Ă©, o que faz e para que serve um carnavalesco", complementou.
André Rodrigues, carnavalesco da Portela, observou que Rosa era uma "realidade fundadora" do carnaval.
"Ela fundou um outro tipo de ver e fazer carnaval. Carnaval Ă© mutĂĄvel e uma dessas transformações aconteceram graças [ao talento] de Rosa. Ela aprofunda a escola de samba de uma maneira muito bonita e poĂ©tica", afirmou. "Nós somos hoje o legado dela", completou.
Gabriel Haddad, carnavalesco campeão com a Beija-Flor em 2022, considera que a obra de Rosa, que era formada pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ă© "eterna".
"Rosa foi uma referĂȘncia, vai ser uma referĂȘncia ainda para muitas e muitas gerações de pessoas que trabalham com a arte brasileira. O carnaval Ă© uma arte que só a gente sabe fazer e Rosa foi uma das maiores de todas", declarou.
A trajetória dessa carioca no carnaval começou pela escola de samba AcadĂȘmicos do Salgueiro. A agremiação homenageou a carnavalesca nas redes sociais e lembrou o inĂcio da carreira dela.
"Em 1971, o barracão do Salgueiro ficava em um quintal em Botafogo. Entre os nomes presentes estavam Joãosinho Trinta, LĂcia Lacerda, Maria Augusta e Rosa Magalhães, que começou sua carreira ali, junto a um pequeno time de artistas e dois assistentes. Com a ajuda do mentor Fernando Pamplona, Rosa ingressou no mundo do carnaval durante aulas na Escola de Belas Artes", publicou.
"Rosa Magalhães teve uma trajetória marcante no Salgueiro, não apenas iniciando sua carreira na escola, mas tambĂ©m atuando como carnavalesca em 1990 e 1991. Seu estilo barroco Ășnico no carnaval, inspirado e transformado pelos mestres Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta, redefiniu a linguagem carnavalesca, combinando história e luxo em desfiles inesquecĂveis", finalizou.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, classificou Rosa como "uma das mentes mais brilhantes da nossa maior manifestação cultural [o carnaval]." Ele acrescentou que a história da carnavalesca se confunde com a do próprio carnaval. "De um jeito Ășnico, ela encantou a todos nós com sua capacidade de materializar sonhos na avenida, de contar histórias de um jeito Ășnico e emocionar quem assistia", escreveu o prefeito.
O jornalista e escritor FĂĄbio Fabato, especialista em carnaval, chamou a artista de "maior fazedora de festas populares" e a equiparou a artistas como Tarsila do Amaral e Cândido Portinari.
"AtravĂ©s da arte de Rosa Magalhães, atravĂ©s de suas criações, nós nos descobrimos mais brasileiros, jĂĄ que ela foi uma investigadora profunda de causos e curiosidades na nossa cultura que, muitas vezes, os livros didĂĄticos não contam", declarou.
Ele disse que ela se mantinha ativa intelectualmente, escrevia um livro sobre os Ășltimos carnavais e estava envolvida com uma peça de teatro infantil.
*MatĂ©ria ampliada às 9h54 para acrĂ©scimo de informações.
*MatĂ©ria ampliada às 11h23 para acrĂ©scimo de informações.