O prazo para o envio dos dados, fixado em cinco dias Ășteis, foi prorrogado por mais cinco dias Ășteis, mas a extensão do prazo venceu e o ministĂ©rio ainda não enviou os documentos, nem explicou à comissão o motivo da demora, segundo Carvalho.
O requerimento citado pelo relator foi aprovado pela CPI no dia 28 de fevereiro e pede, entre outros documentos, os processos administrativos, de fiscalização e controle, de denĂșncias e de ações emergenciais que tenham relação com a exploração de sal-gema em Maceió e com a Braskem.
A AgĂȘncia Brasil entrou em contato com a assessoria do ministĂ©rio para comentar o caso, mas não teve retorno atĂ© a publicação desta reportagem.
A CPI da Braskem ouviu nesta terça-feira (18) o ex-secretĂĄrio de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME, Alexandre Vidigal de Oliveira. Ele ficou no cargo de janeiro de 2019 a junho de 2021. A secretaria Ă© responsĂĄvel pela implementação, orientação e coordenação das polĂticas do setor mineral, alĂ©m de monitorar a atuação da AgĂȘncia Nacional de Mineração (ANM), que Ă© a responsĂĄvel por fiscalizar o setor no Brasil.
Vidigal destacou que, quando chegou ao ministĂ©rio, existiam duas versões dos tĂ©cnicos da secretaria sobre a situação do afundamento dos bairros em Maceió: uma dizia que as fraturas e rachaduras encontradas na capital alagoana eram fruto de terremotos ou chuvas torrenciais, ou seja, de causas naturais, e outra versão dizia que essas rachaduras eram resultado da extração de sal-gema nas minas da Braskem.
O relator RogĂ©rio Carvalho destacou que a existĂȘncia das duas versões buscou confundir, porque não havia motivos para imaginar que o afundamento dos bairros em Maceió ocorria por causas naturais. Com isso, Carvalho pediu a relação dos servidores que sustentavam tal tese.
"Essa disputa de narrativa interessava a alguĂ©m, e a gente precisa saber quem defendia qual narrativa", destacou. "AlguĂ©m, dolosamente ou intencionalmente, queria confundir e retirar a responsabilidade de uma lavra predatória feita em Maceió", completou o senador.
O ex-secretĂĄrio Vidigal destacou ainda no depoimento que faltava pessoal e recursos para monitorar o setor mineral no Brasil. "Quando cai Brumadinho [janeiro de 2019], nós fomos surpreendidos, ao saber que o Brasil tinha dez fiscais para cuidar de barragens, e são mais de 600 barragens. Dez fiscais! E quando cai Brumadinho, todos os fiscais se dirigem a Minas Gerais", disse.
Para o relator, os depoimentos da CPI e os documentos atĂ© agora analisados indicam que o setor mineral era o responsĂĄvel pela própria fiscalização. "O que nós estamos vendo aqui na CPI Ă© que o setor regulado não Ă© regulado. Ele se autorregula", comentou.
"?? a própria mineradora que informa as condições tĂ©cnicas em que se encontram as minas. Isso não Ă© suficiente para dar segurança e para evitar danos como o que aconteceu em Maceió", destacou RogĂ©rio Carvalho, que vem defendendo uma reforma de toda estrutura de fiscalização a mineração no paĂs.
A CPI da Braskem investiga o afundamento de bairros em Maceió que causaram o deslocamento de, ao menos, 60 mil pessoais. Segundo a Braskem, o nĂșmero de deslocados Ă© de 40 mil. O caso foi revelado pela primeira vez ao pĂșblico em 2019.
Desde então, o afundamento de regiões inteiras da capital de Alagoas vem se agravando. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a exploração de 35 minas de sal-gema pela Braskem foi a responsĂĄvel por deixar milhares de pessoas desabrigadas e transformar bairros antes movimentados e populosos em lugares praticamente desertos.
A Braskem suspendeu as atividades no municĂpio em novembro de 2019. A companhia diz atuou por 17 anos em Maceió, "respeitando todas as normas tĂ©cnicas e exigĂȘncias regulatórias".
MatĂ©ria ampliada às 15h10 para incluir a estimativa de deslocados da Braskem no 13° parĂĄgrafo.